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Pesquisadores da UnB assinam carta em defesa do Cerrado

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Data Publicação

30/09/2024

03:50h

Documento entregue ao STF destaca urgencia para preservacao de patrimonio natural em crescente degradacao

A relevancia do Cerrado e a preocupacao com o processo acelerado de devastacao desse bioma estao no cerne da Carta de Brasilia 2024 em Defesa do Cerrado. O manifesto foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) e tem pesquisadores da Universidade de Brasilia entre os 44 signatarios, que representam redes e associacoes cientificas e entidades do terceiro setor. O texto entregue no Dia do Cerrado evidencia a necessidade de atencao a “um dos biomas mais negligenciados do Brasil” e alerta para o “preco altissimo” do desmatamento.

“E urgente que toda a sociedade brasileira se de conta do patrimonio que esta sendo tristemente perdido”, sentencia a carta, que cobra de gestores e tomadores de decisao acoes efetivas para proteger e garantir racionalidade no uso dos recursos do Cerrado. Ha ainda a manifesta apreensao pelos povos originarios e comunidades tradicionais que dependem desse territorio natural. A carta pede respeito a essas populacoes e aponta que o conhecimento delas em parceria com a ciencia pode apontar rumos para aliar atividades economicas e preservacao.

“Essa carta e uma tentativa de chamar atencao do STF para a importancia do Cerrado e de se tomar acoes efetivas para conservacao e reducao de incendios”, diz a professora Isabel Schmidt do Departamento de Ecologia (ECL/IB). Ela foi uma das pesquisadoras presentes na entrega do documento a Fernanda Silva de Paula, chefe de gabinete do presidente do Supremo, o ministro Luis Roberto Barroso.

Schmidt, que publicou artigo de opiniao sobre os perigos dos desmatamentos no portal da UnB, lamenta que o Cerrado fique em segundo plano quando o assunto e preservacao. “A gente ve muito a midia e o proprio STF fazendo exigencias para que se proteja a Amazonia e que se combata incendios no Pantanal, mas muito pouca atencao e dada ao Cerrado.”

A diretora da Faculdade de Comunicacao, Dione Moura, tambem esteve presente no STF e assina a carta como gestora regional da Associacao Brasileira de Ensino de Jornalismo. Ela avalia que a acao busca “cumprir o papel de promover o engajamento publico com a ciencia pela conservacao do Cerrado”. A docente, que tambem e coordenadora da Rede Biota Cerrado, manifesta o desejo pela integracao dos tres poderes “em prol da conservacao do berco das aguas que e o bioma Cerrado”.

A carta e assinada por outros gestores, pesquisadores e docentes vinculados a UnB. Entre eles, Antonio Aguiar, Fernando Oliveira Paulino, Guarino Colli, Jose Roberto Rodrigues, Reuber Brandao, Veronica Slobodian e Maria Julia Martins Silva, diretora do Centro UnB Cerrado, ramo da Universidade em Alto Paraiso que deu suporte a acao de brigadistas contra o incendio na Chapada dos Veadeiros, nesta semana.

RECURSOS NATURAIS, AMEACAS E PESQUISAS – Os recursos hidricos sao um ponto essencial na busca pela preservacao do Cerrado. A carta classifica o bioma como “coracao das aguas no Brasil” e alega que estao nele as nascentes de oito das 12 bacias hidrograficas do territorio nacional. A vegetacao local de raizes profundas contribui para a infiltracao da agua no solo e para alimentar rios e aquiferos essenciais as populacoes e ao agronegocio.

O desmatamento, as queimadas e o avanco das fronteiras agricolas colocam em xeque a existencia dessa agua e de outros recursos do bioma, apontado como a savana mais biodiversa do mundo. De acordo com museu virtual criado pela Rede Biota Cerrado, mais de 160 mil especies de plantas, animais e fungos estao presentes no Cerrado, que ocupa mais de 24% do territorio brasileiro.

“Hoje, metade do Cerrado esta convertida a usos antropicos, majoritariamente pastagens e agricultura”, explica Daniel Vieira, coordenador do projeto Restauracao Ecologica, um dos cinco associados a Biota Cerrado. “O Cerrado tem pouquissima area protegida – menos de 10% – e as areas de reserva legal de propriedades somam apenas 20%”, diz.

O coordenador, vinculado a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (Embrapa), afirma que a diminuicao de habitats e a principal ameaca a biodiversidade. “Quando se suprime a vegetacao, especies sao extintas. No Cerrado, as regioes de relevo plano, sem restricoes a mecanizacao, ja estao muito desmatadas”, lamenta.

A UnB sedia a Rede Biota Cerrado, iniciativa que desde 2011 busca analisar a biodiversidade do Cerrado com atencao a conservacao e ao desenvolvimento sustentavel. A rede e integrada ao Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Ministerio da Ciencia, Tecnologia e Inovacao e tem a coordenacao de Guarino Colli, professor do Departamento de Zoologia (ZOO/IB). Alem dos estudos de restauracao, projetos de inventarios biologicos, manejo de fogo, mudancas climaticas e engajamento publico com a ciencia integram a rede.

Fonte: SECOM UnB