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Entenda técnica que faz mosquito levar larvicida a seus criadouros

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Data Publicação

29/09/2024

10:17h

Pesquisadores brasileiros desenvolvem estrategia para combater insetos transmissores de arboviroses. O trabalho comprovou que o uso dos mosquitos para “autodisseminar” larvicidas em seus proprios criadouros pode ajudar no controle das doencas transmitidas, sobretudo aquelas levadas pelo Aedes aegypti, como a dengue.

Chamada de Estacao Disseminadora de Larvicida (EDL), a tecnica atrai os insetos para um pote plastico com agua, recoberto com tecido preto umedecido e impregnado com um larvicida em po muito fino. Ao pousar, o larvicida adere ao mosquito que o leva para o criadouro, permitindo que a substancia alcance suas larvas e impeca a proliferacao.

Elaborado por pesquisadores do Instituto Leonidas e Maria Deane (Fiocruz Amazonia) e do Instituto Rene Rachou (Fiocruz Minas), em parceria com a Secretaria Municipal de Saude de Belo Horizonte, o projeto distribuiu cerca de 2.500 “Estacoes Disseminadoras de Larvicida” (EDLs) em nove bairros de Belo Horizonte ao longo de dois anos. De acordo com a investigacao, houve reducao da incidencia de dengue em 29% nesses bairros e em 21% nos bairros vizinhos.

Publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, a pesquisa comecou em um bairro de Manaus, capital do Amazonas. Devido aos bons resultados, o estudo foi levado para novos locais, com populacoes maiores.

“Comecamos ha alguns anos testando a hipotese que existia na literatura cientifica de que os mosquitos poderiam carregar larvicidas de um lado para o outro”, introduz o pesquisador da Fiocruz Amazonia e um dos autores do estudo, Sergio Luz, “como as femeas colocam ovos em varios lugares, elas pousam na superficie, ficam impregnados com o larvicida e depois o ‘distribuem’ em outros locais”. No inseto, o larvicida atua como um hormonio do crescimento na etapa entre a fase larval e de pupa, fazendo com que a larva continue crescendo, mas sem avancar para o proximo estagio, ou impedindo que o mosquito alcance a fase adulta.

Com apoio de pesquisadores da Universidade de Brasilia (UnB), o estudo foi realizado em Brasilia e tambem obteve bons resultados na diminuicao de doencas. “Isso aconteceu no contexto da epidemia de zika em 2016. Na epoca, o governo federal estava atras de novas estrategias para fazer o combate vetorial do mosquito, tendo em vista que as acoes eram as mesmas ha mais de um seculo”, comenta Luz em entrevista a Agencia Brasil. A partir disso, com o Centro de Operacoes de Emergencia (COE) para Dengue e outras Arboviroses, foram selecionadas diferentes cidades para entender como a estrategia de autodisseminacao funcionaria em areas diferentes da Amazonia.

“Tivemos um resultado bem significativo, de reducao de cerca de 30% de casos de dengue na area central, onde estao as estacoes disseminadoras, e 20% nas areas adjacentes, comprovando o que ja tinhamos mostrado: o mosquito voa e, se ele voa, consegue dispersar larvicida para outras areas”, informou o pesquisador.

A estrategia desenvolvida e coordenada pelos tecnicos da Fiocruz Amazonia foi adotada pelo Ministerio da Saude (MS) em seu novo plano de acao para reduzir os impactos da dengue e de outras arboviroses no Brasil, divulgado na quarta-feira (18). Na publicacao, o ministerio informa que vai expandir o uso das EDLs para o controle do Aedes aegypti nas periferias brasileiras. “Agora, as Estacoes Disseminadoras de Larvicida fazem parte do grupo de estrategias usadas como politica publica no controle do mosquito transmissor da dengue”, celebra Luz.

“E importante dizer que essas medidas sao complementares. A solucao ainda depende muito, porque cerca de 70% dos criadouros dos mosquitos estao nas casas das pessoas, entao e preciso que a comunidade e a populacao contribuam de forma decisiva, nao deixando agua acumulada, fazendo limpeza do terreno e descartando o lixo adequadamente”, alerta o pesquisador.

Segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do MS, ate setembro de 2024 foram registradas 5.428 mortes por dengue e 6.529.520 casos provaveis da doenca. Os casos costumam ser mais comuns, sobretudo, em epocas de altas temperaturas e chuvas frequentes.

*Estagiaria sob supervisao de Vinicius Lisboa